O próximo campo de batalha contra a Covid-19 é nas Escolas. Para vencer, estas precisam de água.

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Students wash their hands at the newly installed taps and handwashing station at Mahubo 14 Primary School in Eduardo Mondlane, Boane District, Mozambique.
Image: WaterAid/ Sam James

A pandemia da Covid-19 não mostra sinais de abrandamento, tanto à nível global, como aqui em Moçambique. Aqueles que podem praticar a lavagem das mãos com sabão mais frequentemente  sabem, mais do que nunca, que é a sua primeira linha de defesa contra a infecção.

As ligações entre a água e a saúde pública nunca foram tão claras. O que está agora a ser trazido à tona é a ligação entre a água e a educação, à medida que o País se debate com o desafio de enviar a sua futura geração de volta às salas de aulas, em condições de segurança.

Após o recente anúncio por parte do Governo de Moçambique de que as escolas iriam reabrir em Julho, houve uma onda de protesto público. Muitos pais estavam, compreensivelmente, nervosos com a perspectiva de regresso dos seus filhos às aulas, temendo o aumento do risco de infecção que isso representaria. O Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano anunciou, subsequentemente, que nenhuma escola em Moçambique seria autorizada a abrir sem um abastecimento de água adequado. Louvável foi também a promessa de mais dinheiro: 3,5 mil milhões de Meticais para expandir, urgentemente, o acesso à água nas escolas.

Ao contrário de muitos outros países, o Governo de Moçambique não se absteve de tomar medidas decisivas para impedir a propagação da Covid-19. Também aqui, o seu reconhecimento da necessidade de água nas escolas, e a promessa de uma maior dotação orçamental, é de louvar. Há muito que a WaterAid procura realçar as ligações entre a água e a educação e anúncios como este devem ser creditados e celebrados.

Durante a última semana, o Governo deixou claro que o dinheiro recentemente alocado destina-se a apoiar as 667 escolas secundárias, instituições de ensino superior e institutos de formação de professores em todo o país. Embora isto seja certamente bem-vindo, há uma preocupação, considerando que parece não haver, actualmente, qualquer consideração pelas cerca de 12.000 escolas primárias existentes em Moçambique. O acesso à água nas escolas primárias, particularmente, nas zonas rurais, é profundamente problemático. O ensino primário é um passo crítico no desenvolvimento humano e é essencial que todas as crianças tenham acesso contínuo a ele.

Um outro desafio do sector está ligado à falta de dados precisos. O Programa Conjunto de Monitoria das Nações Unidas (JMP) recolheu, pela última vez, dados nacionais sobre a água nas escolas em 2016. Infelizmente,  esta indicou que até 69% das escolas em Moçambique não tinham acesso suficiente a uma fonte de água melhorada,tendo se notado, nessa altura que os dados disponíveis eram insuficientes. Sem uma imagem clara da dimensão do problema, não temos forma de saber se os 3,5 mil milhões de Meticais adicionais serão suficientes, mesmo para o número limitado de escolas a que se destina.

Um último ponto a salientar é que o investimento pontual em infraestruturas de água, embora extremamente bem-vindo, não proporcionará, por si só, benefícios sustentáveis para a saúde e a educação. Intervenções paralelas em saneamento, higiene e comportamentos associados são vitais para garantir que estudantes, professores e pessoal administrativo possam utilizar os sanitários em segurança e lavar as mãos. São também necessárias dotações contínuas para água, saneamento e higiene nos orçamentos escolares para cobrir os custos de operação e manutenção e assegurar que os serviços possam ser sustentados.

Um país não deve ser forçado a escolher entre a educação da sua futura geração e a saúde da sua população. O acesso à água, saneamento e higiene nas escolas é fundamental para evitar este dilema e uma base de dados fiável é crucial para o planeamento e gestão de investimentos futuros. A tarefa que se avizinha é assustadora e urgente, mas a WaterAid está pronta a apoiar o governo e outros parceiros para estar à altura do desafio.